20/11/2011

Por uma política cultural vinda da própria classe: Fazedores da arte

Ser artista, ter uma companhia de teatro, que acaba funcionando como uma empresa, faz com que acabemos pensando e nos movimentando intrísecamente como grandes políticos. Uma brincadeira muito séria de entender e acompanhar a "feitura" política. 

Vivemos um grave momento na política cultural. Muitos dos poucos privilegiados gritam aos quatro ventos que o teatro vive uma nova retomada e que o público está voltando ao teatro! Mas em quais teatros, ou melhor, qual teatro? Quem faz esse teatro e principalmente para quem faz?

O que vemos (e podemos falar da cena teatral paulista e paulistana) são atores na plateia! A classe fazendo teatro para a classe! Onde está a retomada do teatro nacional? À que público esses muitos "dos poucos privilegiados" estão se referindo? O teatro que  é custeado por grandes empresas, que abatem de seus impostos, ou seja dinheiro público, e que ainda assim cobram R$100, R$250 reais o ingresso? De fato para esse tipo de público talvez tenha o sentido da retomada pois, grandes produções musicais da Broadway mensalmente aportam em todos os cantos. Uma fatia tão pequena tem acesso à essa belíssima e encantadora forma de fazer e vender teatro (é mágico, é empolgante, sim é fantástico).

O mote, na verdade, não é nem esse. A cultura está doente. A educação está doente. Estamos anêmicos. VIVEMOS SOB UMA APATIA GENERALIDADA. Talvez a pergunta imediata de todos seja: "Então porque ainda faz teatro?". Talvez a resposta seja um clichê, mas é simples: Porque precisamos, eu enquanto homem/artista preciso e o público precisa. 

O público realmente precisa? 

...talvez entenda o que isso significa àqueles que fazem... ainda sim, talvez...

Um fazedor da arte, Augusto Marín, iniciou no Facebook um árduo debate que começou com a provocação de que o "TEATRO DEVERIA SER OBRIGATÓRIO" apoiado no discurso do Karl Valentin - cômico alemão que escreveu em 1919 na Alemanha nazista ou pré-nazista - claro que as repercussões foram imediatas e descobrimos que tal provocação se trata de um projeto do teatro Commune, de São Paulo, que vai realizar uma série de estudos e debates para os novos rumos da cultura e daí a inquietação e o compartilhar desse desabafo e reflexão. PRECISAMOS!!!

O momento está para a retomada da ação da própria classe. Não achamos que o teatro tenha quer ser únicamente político, embora o próprio fazer teatral seja um ato político. Até o mais inocente teatro pelo teatro (que está esquecido, últimamente) é um ato político, vivermos em sociedade é fazermos política!!!!

São muitos os problemas e discorre-los aqui não seriam a solução, tampouco o suficiente para enfatizar as reais necessidades de um povo carente de reconhecimento.

Nós, enquanto Companhia Profissional de Teatro, entendemos que  precisamos de alguma forma mudar o atual panorama. O nosso é o do "teatro feito pelo homem, para o homem e sobre o homem".

Para concluirmos com esta elucidação, postamos abaixo, uma observação contundente de uma das participantes deste debate, Gleise Nana, que permitiu que compartilhássemos em nossa rede.

Saudações teatrais e que seja doce.

cia de teatro BAMUAR
 

"Teatro nasceu na Grécia junto com a filosofia,é para fazer pensar, discutir, ser espelho da sociedade...Daí o termo espetáculo "Espectare" -espelhar. Ora, a sociedade como está configurada não quer se ver, se deparar com suas mazelas, com ...suas fraquezas...Vive-se num tempo onde há um surto de megalomania... O total fingimento que tudo vai bem, e na suas inércias as pessoas buscam satisfação fácil...Teatro é difícil. Faz com que nos deparemos com nossa fragilidade humana. Isto não interessa ao sistema cultural e financeiro atual. num mundo volátil, onde tudo se transforma com rapidez e todas as relações são líquidas, por que se importar com teatro? Alguém pode levar o elenco para casa e aumentar seu status quo com isto? Eu acho que o teatro é absolutamente necessário, mas não deve ser obrigatório. Devemos lutar para que as condições de nossa conjuntura mude, e , com outros valores estabelecidos, as pessoas passarão a ver as artes e o Teatro de outra forma. entenderão sua importância histórica e sua força de tranformação humana. Temos que mudar as mentalidades e não obrigar as mentalidades atuais a partilhar a algo que elas não atribuem importância ou valor. Isto só as afastaria mais do teatro. Lutar para que haja mudança, acho que esta é a verdadeira solução".

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