20/11/2011

Bamuar in progress: sinopse, novas fotos da leitura, diário de bordo do processo

Olá amigos, colegas e conhecidos da cia. de teatro BAMUAR

Passamos aqui para dizer um pouco do andamento do processo criativo do nosso "À DERIVA NO SUBMUNDO". 

Depois da leitura dramática/encenada realizada com sucesso no dia 22/10 em Osasco, precisamos digerir todas as refexões e observações dadas pelo público presente. Vivemos em pleno momento de reflexão da obra e confessamos que tem sido um processo árduo. 

Há alguns dias atrás convidamos alguns artistas experientes da cena teatral, tanto em dramaturgia quanto no feelling de "ator", e que gentilmente aceitaram em ler o nosso texto, para darem suas opiniões quanto ao andamento. Recebemos observações importantes e podemos concluir de que estamos no caminho certo. 

Estamos dentro do cronograma inicialmente programado e vamos fechar nosso texto ainda em dezembro do ano corrente.  A parte dolorosa do nosso processo é a famosa hora do facão. Por questões estruturais, cenas inteiras tiveram que cair, no compasso de que outras novas e lindas surgiram. 

Será o universo conspirando com BACO?

Entremeado com a escrita também estamos trabalhando na formatação e elaboração do projeto para sairmos em busca de apoios, editais e patrocínios. Sem ajuda destes orgãos, fica muito difícil seguir adiante. Mas não impossível.
Segue abaixo a sinopse do nosso espetáculo:

“À DERIVA NO SUBMUNDO”, escrito por Guilherme Vale e Talita Felonta a partir dos confrontos existentes entre os universos dos autores Plínio Marcos e Tennessee Williams.

O espetáculo se passa no quarto de uma hospedaria caindo aos pedaços no longínquo, extremo e periférico submundo que margeia uma sociedade doente e embrutecida.

A decadência é retratada no relacionamento dependente e opressor entre a travesti Liza (que alimenta o frustrado e utópico plano de sair do seu mundo de merda para ser uma grande vedete) com a prostituta Blanche (que encontra nos seus delírios a fuga para uma realidade menos difícil e mais feliz com a espera do seu grande amor que nunca vem). 

Ilusão, corrupção humana, coação, subordinação, abandono, preconceito, exclusão, miséria, indiferença, vingança e violência unem essas personagens que juntas “vivem” e compartilham o grito dos excluídos à margem de uma sociedade que não admite solução a não ser a libertação e que só acontece com a morte ou com o aniquilamento de um dos pólos tencionais.

Liza e Blanche! Em comum: à deriva no submundo.".


>>>>>>> Novas fotos da leitura dramática






















As fotos foram tiradas pelo Douglas Renê. Operação de Luz  por Mika Costa. Arranjos e violão por Rei Bass. Filmagem feita por Deni Braga.

Saudações teatrais e que seja doce,

cia. de teatro BAMUAR

Por uma política cultural vinda da própria classe: Fazedores da arte

Ser artista, ter uma companhia de teatro, que acaba funcionando como uma empresa, faz com que acabemos pensando e nos movimentando intrísecamente como grandes políticos. Uma brincadeira muito séria de entender e acompanhar a "feitura" política. 

Vivemos um grave momento na política cultural. Muitos dos poucos privilegiados gritam aos quatro ventos que o teatro vive uma nova retomada e que o público está voltando ao teatro! Mas em quais teatros, ou melhor, qual teatro? Quem faz esse teatro e principalmente para quem faz?

O que vemos (e podemos falar da cena teatral paulista e paulistana) são atores na plateia! A classe fazendo teatro para a classe! Onde está a retomada do teatro nacional? À que público esses muitos "dos poucos privilegiados" estão se referindo? O teatro que  é custeado por grandes empresas, que abatem de seus impostos, ou seja dinheiro público, e que ainda assim cobram R$100, R$250 reais o ingresso? De fato para esse tipo de público talvez tenha o sentido da retomada pois, grandes produções musicais da Broadway mensalmente aportam em todos os cantos. Uma fatia tão pequena tem acesso à essa belíssima e encantadora forma de fazer e vender teatro (é mágico, é empolgante, sim é fantástico).

O mote, na verdade, não é nem esse. A cultura está doente. A educação está doente. Estamos anêmicos. VIVEMOS SOB UMA APATIA GENERALIDADA. Talvez a pergunta imediata de todos seja: "Então porque ainda faz teatro?". Talvez a resposta seja um clichê, mas é simples: Porque precisamos, eu enquanto homem/artista preciso e o público precisa. 

O público realmente precisa? 

...talvez entenda o que isso significa àqueles que fazem... ainda sim, talvez...

Um fazedor da arte, Augusto Marín, iniciou no Facebook um árduo debate que começou com a provocação de que o "TEATRO DEVERIA SER OBRIGATÓRIO" apoiado no discurso do Karl Valentin - cômico alemão que escreveu em 1919 na Alemanha nazista ou pré-nazista - claro que as repercussões foram imediatas e descobrimos que tal provocação se trata de um projeto do teatro Commune, de São Paulo, que vai realizar uma série de estudos e debates para os novos rumos da cultura e daí a inquietação e o compartilhar desse desabafo e reflexão. PRECISAMOS!!!

O momento está para a retomada da ação da própria classe. Não achamos que o teatro tenha quer ser únicamente político, embora o próprio fazer teatral seja um ato político. Até o mais inocente teatro pelo teatro (que está esquecido, últimamente) é um ato político, vivermos em sociedade é fazermos política!!!!

São muitos os problemas e discorre-los aqui não seriam a solução, tampouco o suficiente para enfatizar as reais necessidades de um povo carente de reconhecimento.

Nós, enquanto Companhia Profissional de Teatro, entendemos que  precisamos de alguma forma mudar o atual panorama. O nosso é o do "teatro feito pelo homem, para o homem e sobre o homem".

Para concluirmos com esta elucidação, postamos abaixo, uma observação contundente de uma das participantes deste debate, Gleise Nana, que permitiu que compartilhássemos em nossa rede.

Saudações teatrais e que seja doce.

cia de teatro BAMUAR
 

"Teatro nasceu na Grécia junto com a filosofia,é para fazer pensar, discutir, ser espelho da sociedade...Daí o termo espetáculo "Espectare" -espelhar. Ora, a sociedade como está configurada não quer se ver, se deparar com suas mazelas, com ...suas fraquezas...Vive-se num tempo onde há um surto de megalomania... O total fingimento que tudo vai bem, e na suas inércias as pessoas buscam satisfação fácil...Teatro é difícil. Faz com que nos deparemos com nossa fragilidade humana. Isto não interessa ao sistema cultural e financeiro atual. num mundo volátil, onde tudo se transforma com rapidez e todas as relações são líquidas, por que se importar com teatro? Alguém pode levar o elenco para casa e aumentar seu status quo com isto? Eu acho que o teatro é absolutamente necessário, mas não deve ser obrigatório. Devemos lutar para que as condições de nossa conjuntura mude, e , com outros valores estabelecidos, as pessoas passarão a ver as artes e o Teatro de outra forma. entenderão sua importância histórica e sua força de tranformação humana. Temos que mudar as mentalidades e não obrigar as mentalidades atuais a partilhar a algo que elas não atribuem importância ou valor. Isto só as afastaria mais do teatro. Lutar para que haja mudança, acho que esta é a verdadeira solução".

19/11/2011

cia. de teatro Bamuar no FACEBOOOK.

Olá amigos, colegas e conhecidos da Bamuar,

A internet é uma ferramenta fundamental para divulgarmos os trabalhos, bem como nos aproximarmos ainda mais do nosso público, além de conquistarmos muitos outros.

Para isso que mantemos esse blog e agora estamos no FACEBOOK, rede social, que gera um impacto muito grande quando queremos nos relacionar com muitas pessoas ao mesmo tempo.

Você tem facebook? Então, aproveita e nos adicione. Será divertidíssmo e enriquecedor.

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Saudações teatrais,

Cia. de Teatro Bamuar - Talita Felonta e Guilherme Vale

13/11/2011

Pesquisa - Tennessee Williams

"Há um tempo para partir, mesmo quando não há lugar certo para ir". - Tennessee Williams
 
Olá amigos, colegas e conhecidos da Cia. de Teatro Bamuar.

             Na semana passada compartilhamos  breve biografia sobre Plínio Marcos, autor cujo universo dramatúrgico é objeto de estudo do nosso processo criativo. Hoje é a vez de falarmos de Tennessee Williams que, como é sabido é nosso também objeto de estudo. Ambos são o mote inspiradores para a criação do texto dramático de "À Deriva no Submundo", autoria de Guilherme Vale e Talita Felonta.

            Thomas Lanier Williams ou Tennessee Williams nasceu em 26 de março de 1911 na cidade de Columbus, no Mississipi, EUA. Foi o dramaturgo, poeta, romancista americano e autor de obras que ecoarão no éter cênico teatral por séculos. 

            Dono de um invejável currículo na literatura, no teatro e no cinema, Tennessee Williams pode ser considerado hoje um dos dramaturgos mais aclamados e bem sucedidos do século XX. É um dos poucos a terem realizado a façanha de ter levado para casa dois prêmios Pulitzer, um Tony e duas indicações ao Oscar. Também foi eternizado pela crítica como um dos autores mais influentes de sua geração e o de maior relevância numa época marcada por censuras e barreiras. Seus textos afiados, marcados por diálogos inteligentes e por duplos sentidos, elevaram a dramaturgia americana a um nível de refinamento e força acima do esperado e, graças a eles, que hoje podemos contar com uma liberdade de expressão tão necessária no terreno das artes cênicas. 

            Seus personagens são frequentemente confrontados com uma sociedade dividida entre conflitos de alta intensidade em que, eventualmente, traz para fora as paixões e as falhas na sua forma original e fora das convenções sociais. O enredo é fraco em seus trabalhos mas incidem sobre a expressão dos personagens rasgados, travados em um ambiente opressivo cujo poesia e diálogos transmitem sensualidade.

            Tennessee nunca teve uma relação fácil com seus familiares. Seu pai, Cornelius, era um ex-integrante do exército e alcoólatra que descontava na família toda sua raiva com a vida, em especial com Tennessee, além de ser suspeito de tentar abusar sexualmente de sua filha. Sua mãe tinha transtornos sérios de personalidade e sua amada irmã, Rose, com quem mais tinha apego, era portadora de esquizofrenia, sofrendo uma lobotomia ainda muito nova, o que acabou deixando-a incapacitada. Depois de crescido, tímido e reprimido, ele acabou se descobrindo homossexual quando foi obrigado a servir no exército, na mesma medida que foi descobrindo uma vontade incontrolável de escrever histórias que, geralmente se focavam em dramas familiares similares aos seus. A partir de então foi seguindo seu próprio caminho até ganhar reconhecimento com suas peças e se tornar quem nós conhecemos hoje.
 
"É possível ser jovem sem ter dinheiro, mas não se pode ser velho sem ele". - Tennessee Williams.


              Apesar de bem resumida, essa pequena introdução sobre a vida de Tennessee é o suficiente para entendermos os fatores que influenciaram todas as suas obras. Temas como alcoolismo, doenças mentais, relações familiares, abusos sexuais, traumas emocionais e homossexualismo estão sempre presentes em seus textos, todos inspirados em sua própria trajetória de vida. Também muito recorrente nas peças do dramaturgo são personagens femininas fortes, que geralmente representam seu alter ego, e personagens masculinos bem moldados num estilo "machão" (fortes, brutos, sensuais e fechados), como um tipo de representação daquilo que o atraía fisicamente (certa vez ele confessou a seu amigo Gore Vidal, um escritor conceituado, que jamais poderia escrever uma peça sem um personagem pelo qual sentisse desejo). Usando esses dois tipos mais básicos como base na hora de criar suas tramas, ele apenas incluía o âmbito familiar para dar um toque teatral para a obra, não sem antes encher seus trabalhos de simbolismos críticos na hora de amenizar o conteúdo escandaloso que geralmente acompanhava as premissas.

            Tendo em mente o estilo único do dramaturgo, podemos então entender o impacto de seus textos quando adaptados para o cinema americano ultra-moralista das décadas de 1950 e 1960. 

            Nativo do Sul, Tennessee Williams fornece o cenário mais comum para as suas criações, como no seu famoso jogo Gata em Teto de Zinco Quente (1955) que será filmado por diversas vezes (a primeira em 1958). Seus trabalhos realizados durante os anos cinquenta renderam-lhe uma reputação internacional, especialmente com "Um Bonde chamado desejo" de 1947, que ganhou o Prêmio Pulitzer e também levado as telas em 1952 por Elia Kazan.

            Infelizmente, são poucos os dramaturgos que possuem o cacife de Tennessee, principalmente no que diz respeito aos diálogos e a sutileza com que ele abordava seus temas principais, que geralmente eram fortes e ácidos.

            A angústia niilista, sensual e individualista estão em três das suas obras maiores como, "À Margem da Vida", "Um Bonde Chamado Desejo" e "Gata em Teto de Zinco Quente".

"Penso que o ódio é um sentimento que só pode existir na ausência da inteligência.". - Tennessee Williams


            Autor compulsivo de dezenas de peças, com outras sendo descobertas a todo momento, Williams é lembrado, e encenado, sobretudo pelas três. Mas sua maior produção no teatro é de textos curtos como: "Fala comigo doce como a chuva" e "Essa propriedade está condenada", assim como é de contos, na prosa. Em 1967 ele publicou um livro de poemas “No inverno de cidades e em 1975 “Suas Memórias.

            Em 1999, São Paulo passou por uma febre rápida do dramaturgo com Regina Braga como Amanda em "À Margem da Vida" e Vera Fischer como Maggie em "Gata em Teto de Zinco Quente". Mas foi Helena Albergaria, da Cia. do Latão, que roubou a cena como Willie, protagonista adolescente da pequena e delicada "
Esta Propriedade Está Condenada". "O Matadouro Municipal", como aquela, não é obra-prima, mas é uma das pequenas jóias mal lapidadas de Tennessee Williams.

            No entanto, após esse período áureo, Williams passou momentos difíceis. Vítima de analgésicos e drogas, oprimido pelas críticas negativas dos seus últimos textos, morreu sozinho, em 1983, em um quarto de hotel, depois de comer um tubo de comprimidos para a insônia

Biografia:

 A biografia de Tennessee Williams é muito extensa e boa parte encontra-se na língua original do autor, inglês. É possível encontrar os textos traduzidos e citados ao longo desse texto na Biblioteca do Centro Cultural São Paulo e também no Museu Lasar Segall, além, de outras bibliotecas e nas melhores livrarias.

Referências:

http://pt.infobiografias.com/biografia/35892/Tennessee-Williams.html
http://ornitorrincocinefilo.blogspot.com/2011/06/biografia-tennessee-williams.html

Texto:
 Guilherme Vale (é válido ressaltar que o texto foi montado a partir  das costuras Colagem de textos dos blogs citados acima e do Wikipédia).

 Saudações teatrais e até a próxima,

Cia. de Teatro Bamuar



05/11/2011

Pesquisa - Plínio Marcos

“Teatro só faz sentido quando é uma tribuna livre onde se podem discutir até as últimas conseqüências os problemas do homem.” (Plínio Marcos)


















































































Olá colegas, amigos e conhecidos da Bamuar. 

Como é sabido,  "À Deriva no submundo" é texto de nossa autoria e que surgiu apartir do confronto entre os universos dos dramaturgos Plínio Marcos e Tennessee Williams.

A montagem  e escrita do texto “À DERIVA NO SUBMUNDO” é o material resultante do processo de estudos na pesquisa da linguagem cênica e experimental da Cia. de Teatro Bamuar. Hoje vamos compartilhar um pouco de nossa pesquisa.

Plínio Marcos é muito presente em nosso processo criativo. Temos um carinho e admiração por tudo que o eterno Bobo Plín com seu talento e sensibilidade  nos deixou. E a escolha por Plínio Marcos, dramaturgo santista e brasileiro, surgiu da paixão intensa e da forma visceral com que esse autor dedicou sua vida inteira em querer plasmar no universo as tragédias vividas pelo seu povo.

Plínio Marcos, renovador dos padrões dramatúrgicos, através do enfoque quase naturalista que imprime aos diálogos e situações, sempre cortantes e carregados de gírias de personagens oriundas das camadas sociais periféricas, torna o palco, a partir dos anos 1960, uma feroz arena de luta entre indivíduos sob situações de subdesenvolvimento.

Em suas obras, o discurso é a do teatro maldito por falar das misérias humanas (psicológicas oriundas das materiais) e levanta uma valiosa discussão sobre a desigualdade social e de como nos portamos diante dela. Por isso maldito. Porque fala dos excluídos que estão aos montes por ai e por aqui (sim, nós mesmos). E se nós, profissionais das artes cênicas somos de certa forma, excluídos, temos que falar sob o nosso ponto de vista.

Renato Roschel definiu muito bem quem foi o Plínio: " Autor maldito de assuntos malditos como homossexualismo, marginalidade, prostituição e violência, Plínio Marcos foi um dos primeiros a retratar a vida dos submundos de São Paulo. É o João Antônio do teatro brasileiro. Nunca cedeu. Impôs sempre sua verve sem hipocrisias. Direta, forte e sem arestas. Era, segundo ele mesmo afirmava, "figurinha difícil". Foi, entre as coisas que dele se sabe, dramaturgo, ator, jornalista, tarólogo, camelô de seus próprios livros, técnico da extinta TV Tupi, jogador de futebol e palhaço.".

Filho de um bancário (Armando) e de uma dona-de-casa, (Hermínia), tinha 4 irmãos e uma irmã. Depois de passar por diversas profissões (aprendiz de encanador, funileiro, vendedor de livros espírita, estivador, etc) ingressa num circo atuando como palhaço, humorista e dirigindo alguns shows. Em 1953 percorria o interior paulista com a Cia Santista de Teatro de Variedades. 

Sobre seus personagens, Plínio afirmava : “... Eu os amo por serem frágeis diante dos duros combates do dia a dia, mas que não se rendem nunca...” .

Em 1958 começa a trabalhar como ator de teatro na companhia da Patrícia Galvão, a Pagu. No mesmo ano escreve sua primeira peça: Barrela. A peça foi censurada por ser considerada pornográfica. O texto foi liberado para uma apresentação no dia 1º de novembro de 1959, no palco do Centro Português de Santos, e depois ficou proibido pela Censura Federal por vinte e um anos. Sua peça seguinte, Os Fantoches, foi um fiasco.

Mudou-se para São Paulo no ano de 1960. Para se manter, trabalhava como camelô. Nessa época trabalhou na Companhia de teatro da Jane Hegenberg e depois foi aprovado para entrar na Companhia Cacilda Becker. Chegou a trabalhar em duas peças ao mesmo tempo: fazia o primeiro ato de César e Cleópatra, na Companhia da Cacilda, e entrava em O Noviço, no Teatro Arena, no último ato. Em 1963 começa a escrever para o programa TV de Vanguarda, da TV Tupi.  

Ainda na década de 1960, Plínio participou também  da novela Beto Rockfeller, na TV Tupi, de 4 de novembro de 1968 a 30 de novembro de 1969, fazendo o papel de Vitório, melhor amigo de Beto Rockfeller (Luiz Gustavo) - personagem principal da novela. Em entrevista concedida à Folha, em 1993, Plínio afirmou: "nunca gostei de trabalhar. Só fiz Beto Rockfeller para não ficar órfão ("ficar órfão" significava cair nas garras dos militares). Quando me ofereceram o papel, pensei: se aceitá-lo, ganharei evidência. E, enquanto estiver em evidência, os milicos não me pegarão." 
Aliás, a ligação de Plínio com a TV brasileira nunca foi das melhores. Em 1994, ao responder à pergunta "Qual foi o 1º programa que você viu na TV?", feita para uma enquete do caderno TV Folha, da Folha de São Paulo, ele respondeu: "Nada. Nunca vi TV".

Em 1965, Plínio, juntamente com um grupo de teatro que estava começando, tentou encenar Reportagem de um Tempo Mau no Teatro de Arena. A censura proibiu. Nessa época tentou também encenar a peça Jornada de um Imbecil até o Entendimento, que também foi censurada. Depois disso escreveu Dois Perdidos Numa Noite Suja inspirada no conto O Terror de Roma, de Moravia. Nessa mesma época apareceram as peças Navalha na Carne, Quando as Máquinas Param e Homens de Papel. A peça O Abajur Lilás, escrita em 1969, seria liberada da censura no ano de 1975.

Durante os últimos anos da década de 60 e os primeiros da década de 70, Plínio Marcos foi preso duas vezes e detido para interrogatório em diversas ocasiões. Sua vida insubmissa, seus textos desbocados e cheios de fúria, sua teimosia em não aceitar cortes, em não negociar com a Censura, levam à proibição de toda sua obra. Proclama-se um "autor maldito", sempre que tem a oportunidade de fazer pronunciamentos públicos.

Plínio era visto como uma pedra no sapato dos militares que governavam o país. Eles o viam como um "inimigo do sistema". Seu crime? As peças Dois Perdidos numa Noite Suja e Navalha na Carne, escritas entre 1966 e 1967. Para os milicos, peças que traziam um mundo sem meias palavras, direto e convincente, que davam tratamento dramático à realidade de prostitutas, gigolôs e bandidos, poderiam servir à subversão. Sob o governo militar, Barrela também foi proibida, e, em 1970, Abajur Lilás foi censurada (as duas obras só seriam liberadas em 1980).
 
Com todas as suas peças proibidas pelo regime militar, Plínio quase desistiu da carreira de dramaturgo. Sobrevive nesse período como articulista dos raros órgãos de imprensa que o aceitam. Só consegue voltar a atuar em 1977, com o musical O Poeta da Vila e Seus Amores, sobre a vida de Noel Rosa. A seguir, uma peça amena, Sob o Signo da Discoteque, de 1979, período menos tenso que marca uma mudança de rumo. 

Na década de 1980, quando a ditadura terminou e suas peças foram liberadas, Plínio novamente surpreendeu. Plínio interessa-se pelo estudo de assuntos esotéricos e pela leitura do Tarô. Dessa nova fase nasce Jesus Homem, Madame Blavatsky e Balada de um Palhaço nas quais mostra um lado mais espiritualista. Em 1985, ganhou os prêmios Molière e Mambembe pela peça Madame Blavatsky.  No mesmo ano é internado no Incor por causa de um infarto.

Durante muitos anos Plínio vive das edições e reedições auto-financiadas das suas obras. “Eu era proibido em todos os ofícios que tinha – cronista esportivo, cronista de carnaval, trabalhar na televisão – . Mas, batalhei e voltei às minhas origens como camelô, vendendo meus livros na rua para sobreviver.”

No começo da década de 1990, criou um curso: O Uso Mágico da Palavra. E dava oficinas em vários lugares, continuando com sua tradição de mambembeiro e camelô, porque nunca deixou de vender seus livros.  
Segundo o crítico e historiador de teatro, Décio de Almeida Prado, "Plínio tinha uma experiência humana ligada às classes pobres e levou esse mundo para o teatro, até então em grande medida desconhecido. O teatro dele não era exatamente político, de pobres contra ricos, mas trazia uma experiência amarga dos pobres, e isso representou uma grande novidade. Navalha na Carne é uma peça com muita força, com três excluídos que sofrem e nos fazem sofrer".


Plínio Marcos morreu no dia 19 de novembro de 1999,  aos 64 anos, depois de uma internação de 27 dias no Instituto do Coração, em São Paulo.

“A dramaticidade de Plínio não admite soluções de compromisso ou acomodamento de situações, apenas o rompimento dos vínculos, onde apenas a morte ou o aniquilamento de um dos pólos tencionais pode representar a libertação.". (Edelcio Mostalço – Crítico Teatral)



Bibliografia
Teatro adulto

Barrela, 1958
Os fantoches, 1960
Jornada de um imbecil até o entendimento (1ª versão)
Enquanto os navios atracam, 1963
Quando as máquinas param (1ª versão)
Chapéu sobre paralelepípedo para alguém chutar (2ª versão de Os fantoches)
Reportagem de um tempo mau, 1965
Dois perdidos numa noite suja, 1966
Dia virá (1ª versão de Jesus-homem), 1967
Navalha na carne, 1967
Quando as máquinas param (2ª versão de Enquanto os navios atracam), 1963
Homens de papel, 1968
Jornada de um imbecil até o entendimento (3ª versão de Os fantoches)
O abajur lilás, 1969
Oração de um pé-de-chinelo, 1969
Balbina de Iansã (musical), 1970
Feira livre (opereta), 1976
Noel Rosa, o poeta da Vila e seus amores (musical), 1977
Jesus-homem, 1978 (2ª versão de Dia virá, 1967)
Sob o signo da discoteque, 1979
Querô, uma reportagem maldita, 1979
Madame Blavatski, 1985
Balada de um palhaço, 1986
A mancha roxa, 1988
A dança final, 1993
O assassinato do anão do caralho grande, 1995
O homem do caminho, 1996
O bote da loba, 1997
Chico Viola (inacabada), 1997

Teatro infantil

As aventuras do coelho Gabriel, 1965
O coelho e a onça (história dos bichos brasileiros), 1998
Assembléia dos ratos, 1989
Seja você mesmo (inacabada)
  Livros

Navalha na carne (teatro), 1968
Quando as máquinas param (teatro), 1971
Histórias das quebradas do mundaréu (contos), 1973
Barrela (teatro), (1976)
Uma reportagem maldita – Querô (romance), 1976
Inútil canto e inútil pranto pelos anjos caídos (contos), 1977
Dois perdidos numa noite suja (teatro), 1978
Oração para um pé-de-chinelo (teatro), s/data
Jesus-homem (teatro), 1981
Prisioneiro de uma canção (contos autobiográficos), 1982
Novas histórias da Barra do Catimbó (contos), s/d
Madame Blavatski (teatro), 1985
A figurinha e os soldados da minha rua - histórias populares (relatos autobiográficos), 1986
Canções e reflexões de um palhaço (textos curtos), 1987
A mancha roxa (teatro), 1988
Teatro maldito teatro (contém as peças Barrela, Dois Perdidos Numa Noite Suja e O Abajur Lilás), 1992
A dança final (teatro), 1994
Ns trilha dos saltimbancos (conto), data imprecisa
O assassinato do anão do caralho grande (noveleta policial e peça teatral), 1996
Figurinha difícil - Pornografando e subvertendo (relatos autobiográficos), 1996
O truque dos espelhos (contos autobiográficos), 1999

Fontes consultadas: 

Sítio oficial de Plínio Marcos
http://gatopeleque.blogspot.com/2011/10/plinio-marcos.html 
http://www.novomilenio.inf.br/cultura/cult050a.htm

Texto: Guilherme Vale


Saudações Teatrais,