05/11/2011

Pesquisa - Plínio Marcos

“Teatro só faz sentido quando é uma tribuna livre onde se podem discutir até as últimas conseqüências os problemas do homem.” (Plínio Marcos)


















































































Olá colegas, amigos e conhecidos da Bamuar. 

Como é sabido,  "À Deriva no submundo" é texto de nossa autoria e que surgiu apartir do confronto entre os universos dos dramaturgos Plínio Marcos e Tennessee Williams.

A montagem  e escrita do texto “À DERIVA NO SUBMUNDO” é o material resultante do processo de estudos na pesquisa da linguagem cênica e experimental da Cia. de Teatro Bamuar. Hoje vamos compartilhar um pouco de nossa pesquisa.

Plínio Marcos é muito presente em nosso processo criativo. Temos um carinho e admiração por tudo que o eterno Bobo Plín com seu talento e sensibilidade  nos deixou. E a escolha por Plínio Marcos, dramaturgo santista e brasileiro, surgiu da paixão intensa e da forma visceral com que esse autor dedicou sua vida inteira em querer plasmar no universo as tragédias vividas pelo seu povo.

Plínio Marcos, renovador dos padrões dramatúrgicos, através do enfoque quase naturalista que imprime aos diálogos e situações, sempre cortantes e carregados de gírias de personagens oriundas das camadas sociais periféricas, torna o palco, a partir dos anos 1960, uma feroz arena de luta entre indivíduos sob situações de subdesenvolvimento.

Em suas obras, o discurso é a do teatro maldito por falar das misérias humanas (psicológicas oriundas das materiais) e levanta uma valiosa discussão sobre a desigualdade social e de como nos portamos diante dela. Por isso maldito. Porque fala dos excluídos que estão aos montes por ai e por aqui (sim, nós mesmos). E se nós, profissionais das artes cênicas somos de certa forma, excluídos, temos que falar sob o nosso ponto de vista.

Renato Roschel definiu muito bem quem foi o Plínio: " Autor maldito de assuntos malditos como homossexualismo, marginalidade, prostituição e violência, Plínio Marcos foi um dos primeiros a retratar a vida dos submundos de São Paulo. É o João Antônio do teatro brasileiro. Nunca cedeu. Impôs sempre sua verve sem hipocrisias. Direta, forte e sem arestas. Era, segundo ele mesmo afirmava, "figurinha difícil". Foi, entre as coisas que dele se sabe, dramaturgo, ator, jornalista, tarólogo, camelô de seus próprios livros, técnico da extinta TV Tupi, jogador de futebol e palhaço.".

Filho de um bancário (Armando) e de uma dona-de-casa, (Hermínia), tinha 4 irmãos e uma irmã. Depois de passar por diversas profissões (aprendiz de encanador, funileiro, vendedor de livros espírita, estivador, etc) ingressa num circo atuando como palhaço, humorista e dirigindo alguns shows. Em 1953 percorria o interior paulista com a Cia Santista de Teatro de Variedades. 

Sobre seus personagens, Plínio afirmava : “... Eu os amo por serem frágeis diante dos duros combates do dia a dia, mas que não se rendem nunca...” .

Em 1958 começa a trabalhar como ator de teatro na companhia da Patrícia Galvão, a Pagu. No mesmo ano escreve sua primeira peça: Barrela. A peça foi censurada por ser considerada pornográfica. O texto foi liberado para uma apresentação no dia 1º de novembro de 1959, no palco do Centro Português de Santos, e depois ficou proibido pela Censura Federal por vinte e um anos. Sua peça seguinte, Os Fantoches, foi um fiasco.

Mudou-se para São Paulo no ano de 1960. Para se manter, trabalhava como camelô. Nessa época trabalhou na Companhia de teatro da Jane Hegenberg e depois foi aprovado para entrar na Companhia Cacilda Becker. Chegou a trabalhar em duas peças ao mesmo tempo: fazia o primeiro ato de César e Cleópatra, na Companhia da Cacilda, e entrava em O Noviço, no Teatro Arena, no último ato. Em 1963 começa a escrever para o programa TV de Vanguarda, da TV Tupi.  

Ainda na década de 1960, Plínio participou também  da novela Beto Rockfeller, na TV Tupi, de 4 de novembro de 1968 a 30 de novembro de 1969, fazendo o papel de Vitório, melhor amigo de Beto Rockfeller (Luiz Gustavo) - personagem principal da novela. Em entrevista concedida à Folha, em 1993, Plínio afirmou: "nunca gostei de trabalhar. Só fiz Beto Rockfeller para não ficar órfão ("ficar órfão" significava cair nas garras dos militares). Quando me ofereceram o papel, pensei: se aceitá-lo, ganharei evidência. E, enquanto estiver em evidência, os milicos não me pegarão." 
Aliás, a ligação de Plínio com a TV brasileira nunca foi das melhores. Em 1994, ao responder à pergunta "Qual foi o 1º programa que você viu na TV?", feita para uma enquete do caderno TV Folha, da Folha de São Paulo, ele respondeu: "Nada. Nunca vi TV".

Em 1965, Plínio, juntamente com um grupo de teatro que estava começando, tentou encenar Reportagem de um Tempo Mau no Teatro de Arena. A censura proibiu. Nessa época tentou também encenar a peça Jornada de um Imbecil até o Entendimento, que também foi censurada. Depois disso escreveu Dois Perdidos Numa Noite Suja inspirada no conto O Terror de Roma, de Moravia. Nessa mesma época apareceram as peças Navalha na Carne, Quando as Máquinas Param e Homens de Papel. A peça O Abajur Lilás, escrita em 1969, seria liberada da censura no ano de 1975.

Durante os últimos anos da década de 60 e os primeiros da década de 70, Plínio Marcos foi preso duas vezes e detido para interrogatório em diversas ocasiões. Sua vida insubmissa, seus textos desbocados e cheios de fúria, sua teimosia em não aceitar cortes, em não negociar com a Censura, levam à proibição de toda sua obra. Proclama-se um "autor maldito", sempre que tem a oportunidade de fazer pronunciamentos públicos.

Plínio era visto como uma pedra no sapato dos militares que governavam o país. Eles o viam como um "inimigo do sistema". Seu crime? As peças Dois Perdidos numa Noite Suja e Navalha na Carne, escritas entre 1966 e 1967. Para os milicos, peças que traziam um mundo sem meias palavras, direto e convincente, que davam tratamento dramático à realidade de prostitutas, gigolôs e bandidos, poderiam servir à subversão. Sob o governo militar, Barrela também foi proibida, e, em 1970, Abajur Lilás foi censurada (as duas obras só seriam liberadas em 1980).
 
Com todas as suas peças proibidas pelo regime militar, Plínio quase desistiu da carreira de dramaturgo. Sobrevive nesse período como articulista dos raros órgãos de imprensa que o aceitam. Só consegue voltar a atuar em 1977, com o musical O Poeta da Vila e Seus Amores, sobre a vida de Noel Rosa. A seguir, uma peça amena, Sob o Signo da Discoteque, de 1979, período menos tenso que marca uma mudança de rumo. 

Na década de 1980, quando a ditadura terminou e suas peças foram liberadas, Plínio novamente surpreendeu. Plínio interessa-se pelo estudo de assuntos esotéricos e pela leitura do Tarô. Dessa nova fase nasce Jesus Homem, Madame Blavatsky e Balada de um Palhaço nas quais mostra um lado mais espiritualista. Em 1985, ganhou os prêmios Molière e Mambembe pela peça Madame Blavatsky.  No mesmo ano é internado no Incor por causa de um infarto.

Durante muitos anos Plínio vive das edições e reedições auto-financiadas das suas obras. “Eu era proibido em todos os ofícios que tinha – cronista esportivo, cronista de carnaval, trabalhar na televisão – . Mas, batalhei e voltei às minhas origens como camelô, vendendo meus livros na rua para sobreviver.”

No começo da década de 1990, criou um curso: O Uso Mágico da Palavra. E dava oficinas em vários lugares, continuando com sua tradição de mambembeiro e camelô, porque nunca deixou de vender seus livros.  
Segundo o crítico e historiador de teatro, Décio de Almeida Prado, "Plínio tinha uma experiência humana ligada às classes pobres e levou esse mundo para o teatro, até então em grande medida desconhecido. O teatro dele não era exatamente político, de pobres contra ricos, mas trazia uma experiência amarga dos pobres, e isso representou uma grande novidade. Navalha na Carne é uma peça com muita força, com três excluídos que sofrem e nos fazem sofrer".


Plínio Marcos morreu no dia 19 de novembro de 1999,  aos 64 anos, depois de uma internação de 27 dias no Instituto do Coração, em São Paulo.

“A dramaticidade de Plínio não admite soluções de compromisso ou acomodamento de situações, apenas o rompimento dos vínculos, onde apenas a morte ou o aniquilamento de um dos pólos tencionais pode representar a libertação.". (Edelcio Mostalço – Crítico Teatral)



Bibliografia
Teatro adulto

Barrela, 1958
Os fantoches, 1960
Jornada de um imbecil até o entendimento (1ª versão)
Enquanto os navios atracam, 1963
Quando as máquinas param (1ª versão)
Chapéu sobre paralelepípedo para alguém chutar (2ª versão de Os fantoches)
Reportagem de um tempo mau, 1965
Dois perdidos numa noite suja, 1966
Dia virá (1ª versão de Jesus-homem), 1967
Navalha na carne, 1967
Quando as máquinas param (2ª versão de Enquanto os navios atracam), 1963
Homens de papel, 1968
Jornada de um imbecil até o entendimento (3ª versão de Os fantoches)
O abajur lilás, 1969
Oração de um pé-de-chinelo, 1969
Balbina de Iansã (musical), 1970
Feira livre (opereta), 1976
Noel Rosa, o poeta da Vila e seus amores (musical), 1977
Jesus-homem, 1978 (2ª versão de Dia virá, 1967)
Sob o signo da discoteque, 1979
Querô, uma reportagem maldita, 1979
Madame Blavatski, 1985
Balada de um palhaço, 1986
A mancha roxa, 1988
A dança final, 1993
O assassinato do anão do caralho grande, 1995
O homem do caminho, 1996
O bote da loba, 1997
Chico Viola (inacabada), 1997

Teatro infantil

As aventuras do coelho Gabriel, 1965
O coelho e a onça (história dos bichos brasileiros), 1998
Assembléia dos ratos, 1989
Seja você mesmo (inacabada)
  Livros

Navalha na carne (teatro), 1968
Quando as máquinas param (teatro), 1971
Histórias das quebradas do mundaréu (contos), 1973
Barrela (teatro), (1976)
Uma reportagem maldita – Querô (romance), 1976
Inútil canto e inútil pranto pelos anjos caídos (contos), 1977
Dois perdidos numa noite suja (teatro), 1978
Oração para um pé-de-chinelo (teatro), s/data
Jesus-homem (teatro), 1981
Prisioneiro de uma canção (contos autobiográficos), 1982
Novas histórias da Barra do Catimbó (contos), s/d
Madame Blavatski (teatro), 1985
A figurinha e os soldados da minha rua - histórias populares (relatos autobiográficos), 1986
Canções e reflexões de um palhaço (textos curtos), 1987
A mancha roxa (teatro), 1988
Teatro maldito teatro (contém as peças Barrela, Dois Perdidos Numa Noite Suja e O Abajur Lilás), 1992
A dança final (teatro), 1994
Ns trilha dos saltimbancos (conto), data imprecisa
O assassinato do anão do caralho grande (noveleta policial e peça teatral), 1996
Figurinha difícil - Pornografando e subvertendo (relatos autobiográficos), 1996
O truque dos espelhos (contos autobiográficos), 1999

Fontes consultadas: 

Sítio oficial de Plínio Marcos
http://gatopeleque.blogspot.com/2011/10/plinio-marcos.html 
http://www.novomilenio.inf.br/cultura/cult050a.htm

Texto: Guilherme Vale


Saudações Teatrais,



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